sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fiat 600 em Oeiras


Encontrava-se em pleno movimento este Fiat 600 branco, quando foi fotografado em Oeiras. Aparentava estudpendo estado de conservação geral.

Viria a inspirar este conto:

O Hans voltara. Chegara à Abóbada. Não a das igrejas, mas a do Concelho de Cascais. Conduzia um Fiat 600 e dirigia-se para uma oficina. Precisava de trocar os rolamentos, de acordo com o computador de bordo rudimentar de que dispunha. Parou e dirigiu-se ao balcão.

- Bom dia. Segundo creio, o meu veículo precisa de rolamentos novos.

- Ora então, muito bom dia. Ai sim? O que o faz suspeitar dessa súbita necessidade de rolamentos? O Fiat 600 é um veículo que raramente precisa de rolamentos, temos que ser claros e contundentes quanto a isso.

- Pois, compreendo a sua posição como mecânico. Mas o meu nome é Hans. Tenho este carro vai para 15 dias, talvez, e já há alguns dias que o computador de bordo não se cansa de dizer que precisa de um rolamento ou dois, se possível

- Espere, mas não compreendo o que diz. Fala-me então de um computador de bordo? Mas esses dispositivos não serão apenas inventados daqui a cerca de 20 anos? Ainda é muito cedo para ter um computador de bordo, em 1980.

- De facto, devo admitir que talvez seja um pouco prematuro. O calendário que transporto comigo fala precisamente em 1980. Mas comprei o carro no dealbar do século XXI e trouxe-o para aqui. Percebe?

- Cáspite! É a primeira vez que um cliente me vende uma patranha de tal tamanho. Tem a certeza que não se encontra a caçoar de mim?

- Absoluta.

- Mas olhe que a matrícula não diz 2001. Não diz nenhum ano. Continua a confirmar a sua história?

- Sim.

- Pronto, nesse caso, vamos então ver esses rolamentos. Prefere um ou dois? Mal passados ou bem passados?

- Como diz?

- Mal passados ou bem passados? Novos ou gastos?

- Bem, tendo em conta que já tenho uns gastos, prefiro uns mal passados.

- Bom escolha. Tenho aqui mesmo os que precisa. Traga o carro aqui para dentro, por favor. Já vamos pegar nele.

Hans anuiu com a cabeça, dirigiu-se ao carro e empurrou-o sozinho para dentro da garagem.

- Está bem aqui?

- Está, Sr. Hans. Espere só por volta de uma hora e treze minutos para realizarmos a intervenção, por obséquio.

- Com certeza.

Enquanto esperava, Hans decidiu andar um pouco pelas imediações. Dera por volta de 189 passos quando lobrigou um outro Fiat 600, de aspecto cansado, nas traseiras da oficina. Dentro do seu habitáculo, encontravam-se crianças figindo conduzir o bólide, ao mesmo tempo que riam e produziam sons que pretendiam imitar os de o motor de um carro acelerando e travando. Observou o acontecimento durante longos minutos. As crianças ignoravam-no completamente, absortas ludicamente. Passara já uma hora quando deram por ele. Hans apercebeu-se e dirigiu-lhes a palavra.

- Olá. Estão bons?

- Estamos. E o Sr., o que faz aqui?

- Estou à espera que me dêem os rolamentos novos.

- A sério? Veio substituir rolamentos?

- É verdade.

- Mas... mas... mas isso quererá dizer que lhe vão dar também os velhos, não será?

- Presumo que assim será, como aliás é normal.

- Oh... podemos pedir-lhe uma coisa?

- Depende. Se for um disco do Phil Collins ou um livro do Manuel Alegre não pode ser.

- Não é nada disso, esteja descansado.

- Então o que é? Um sopa de alce enlatada?

- Frio, frio.

- Uma caixa de bolachas espanholas fora do prazo comprada em Valverde do Fresno?

- Não, também não. Frio ainda.

- Não me digam que querem um bidão cheio de gasolina de Sluis?

- Não, estamos a ver que o Sr. não chega lá. Olhe: queremos os rolamentos velhos para podermos brincar com eles.

- Ah! Já podiam ter dito. É muito mais simples do que pensei. Venham comigo.

E assim foram até ao balcão, onde o patrão dos mecânicos já se encontrava com uma conta e um saquinho com rolamentos velhos.

- Sr. Hans, o seu carro está pronto. Está impecável: um espectáculo.

- E os rolamentos velhos, estão bons?

- Tão bons como há bocado. Continuam velhos e gastos. Estão aqui.

- Perfeito. Tomem. Agora pertencem a vocês.

Em coro, as crianças proferiram:

- Muito obrigado, Sr. Hans!

E foram-se embora, contemplando os rolamentos, quais rodas com esferas engastadas. Hans pegou no carro e rumou a Talaíde, após pagar 4 rolamentos em vez de 2, por atenção especial do mecânico, que rabiscara uma espécie de não factura em papel cobrando IVA.

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