terça-feira, 23 de março de 2010

Lada amarelo em Leninegrado

Nesta foto, é possível observar um Lada VAZ-2101 amarelo, captado em Leninegrado, há cerca de 10 anos atrás. Na realidade, a cidade já voltara a chamar-se São Petersburgo, nessa altura. Mas, apesar desse regresso ao nome antigo, ainda havia estátuas do estadista comunista em alguns pontos da cidade. O veículo em questão encontrava-se em estado russo de conservação, ou seja, assim assim.

Num texto da época, referiam-se momentos próximos do instante em que a foto foi tirada:

«Aproxima-se a hora do pequeno-almoço, no andar B. Os cartões com os nomes dos visitantes escritos em caligrafia russa são imprescindíveis para comprovar o direito à alimentação. Em cada um dos andares, à entrada, as guardiãs e lídimas herdeiras do KGB mantiveram na sua posse um destes cartões, em troca de uma chave artesanal, envolvida por um porta-chaves de tamanho familiar, de cor preta e forma de lâmpada. Impõe-se dar-lhe os bons dias em russo, palavra aprendida há poucos instantes num livrinho de conversação. A ousadia surte efeito e uma resposta a condizer parte da boca da interlocutora. A chave é trocada pelo cartão. Os visitantes encontram-se e dirigem-se finalmente para o andar B, num dos 7 elevadores. São barrados à entrada, até serem confirmados os seus nomes na lista de hóspedes. Façam favor, é ali ao fundo. Um grande banquete se apresenta aos olhos dos agora comensais. As proverbiais almôndegas, vários sabores de peixe, carnes-frias, blinis de queijo, omeletes de consistência estranha, pãezinhos, a autêntica salada russa, que afinal sempre existe, iogurtes de frutos silvestres, e sumos, sabe-se lá com que água feitos, que ninguém arriscou experimentar. As mesas estavam quase todas ocupadas, mas alguém acabou por se ir embora, deixando espaço livre para os viajantes. Na mesma sala, havia uma gaiola repleta de aves canoras, que despertaram a curiosidade de um dos viajantes, possuidor de um exemplar semelhante na sua cozinha. A refeição foi farta e saborosa, deixando de parabéns a gastronomia russa, em matéria de pequenos almoços, de parabéns. Agora, é preciso sair para a rua e enfrentar o frio gelado, o vento cortante, e caminhar junto ao homem Martini, para depois atravessar uma ponte interessantemente decadente. Nalguns pontos, o viajante tem a sensação de estar a pisar território frágil. A ferrugem deixa ver o fundo do canal, nos pontos em que a sua acção criou pequenos buracos.»

Sem comentários:

Enviar um comentário